Alentejo, Setembro 2023
14 de Setembro, Alentejo
O verão passa a correr, não é o que se diz? Passa, mas não corre, é brisa em vez de vento. Volto sempre aqui (voltamos). Bebemos café quase eternamente, mergulhamos incessantemente, moramos entre a conversa e o silêncio e quando digo moramos é porque fazemos daqui casa. Afinal de contas é mesmo possível.O Setembro vai a meio, esse mês marcado pela festa de um dia sem ela, um dia em que os resquícios da adolescência dolorosa se fazem sentir como camadas de angustia. A cada ano uma camada cai, depois outra e mais outra. Colada à T., perto da T., longe da T., próxima da T., sempre com ela.
Percorremos treze quilómetros como quem sai para ir comprar pão, e pão compramos de facto. Vamos ao rio, onde está a frescura dos anos que sofri nele? Regressamos em silêncio, ouvimos o movimento a falar, não sinto o meu corpo por um breve instante, subo para um mundo paralelo e regresso com os pés no chão.
Ponho velas, um vestido, pinto os lábios, festejo o dia como sempre quis. Na simplicidade estou sempre eu e o T., aqui todos os dias são uma certeza. Vivo a vida, procuro o sol, na cautela do medo pus tudo para trás. Vivo o sol, afinal é dele que me alimento. Leio sem fim, sem princípio, num prazer contínuo, numa leitura prolongada, invejada, deliciosa.
Desta vez há menos fruta, uma Lua quase quase perto, o verão a amainar, a terra a descansar, a cabeça a flutuar, o corpo a fortalecer para um inverno cheio. E cheia vou, cheia vim e cheia regresso, num óbvio destino de que a minha casa agora são duas.
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