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Showing posts from August, 2023

Alentejo, Agosto 2023

26 de Agosto de 2023 A estranheza de conhecer alguém é desmanchada com a idade, o receio do outros nos verem como não somos dissipa-se na certeza de que somos quem somos e mesmo que no silêncio se sinta desconforto, a razão já não é a mesma. Eu e a m. paramos em capelinhas na capital antes de nos fazermos à estrada e apanhamos C. pelo caminho. A conversa flui numa língua que não é de nenhum de nós, uns gaguejam mais pela falta de hábito, outros confirmam o hábito de se expressar universalmente. O dia vai a meio, no meio do calor, no meio do verão, no meio da descoberta lá vamos ao encontro da casa que se faz sua de quem a pisa. A cor é laranja, apesar da casa ser azul e branca mas é a cor da sua luz que me fica na memória da retina. Pulamos para a água, como não? Flutuamos, perguntamos, ouvimos. Eu e C. jantamos juntes, nas cadeiras cromadas, e conversamos sobre o campo e a cidade, sobre como o silêncio nos traz vida. À noite passeamos em volta, durante o dia comemos figos, abrunhos, m...

Alentejo, Agosto 2023

11 de Agosto de 2023 O dedilhado do computador acompanha-me, mas agora são as mãos do T. que se ouvem bem perto. Está calor lá fora, a aragem não é suficiente. As vespas andam de roda, os gatos miam cheios de fome no crepúsculo da noite contínua, o tempo das coisas sopra ao nosso ouvido: descansa, a vida ainda continua. Viemos de quatro rodas, não fugimos, antes abraçamos a sensação de um verão quente e calmo, só possível no paraíso desta sorte. Conduzo pela estrada fora, sorrio à possibilidade da alegria capaz de durar, dou a mão ao T. e sonho com exactamente aquilo que sinto. Chegamos como se chegássemos a casa: a chávena da flor da selva onde o T. bebe o café, o Senhor J. que nos entrega figos acabadinhos de colher, as galinhas a passearem-se pelos recantos, o espaço feito pela mãe mas gozado por todos, a mesa de madeira maciça onde me sento a costurar, a ler, a escrever, a contemplar. Vemos filmes, dormimos sestas, mergulhamos na água, rimos como crianças que o fazem sem motivo, n...

Mafra, Agosto 2023

3 de Agosto de 2023 Na semana da Jornada de Juventude, aterradas com a possibilidade de magotes, viemos uma semana para Mafra. A saída da capital foi atribulada mas na tarde de dia 1 já estávamos onde queríamos estar: longe de Lisboa. Quando estacionámos em frente à casa, que os amigos J. tão gentilmente nos cederam, a primeira coisa em que a L. reparou foi no silêncio e esse silêncio acompanhou-nos pelos dias fora. De facto a vida da cidade é barulhenta, mas um barulho quase intrínseco que só se nota quando não se está por baixo dele. O sítio é me familiar, por isso a diferença não tão acentuada, mas estar com um vale verde à frente do nariz só pode, sem sombra para dúvidas, acalmar a cabeça. O primeiro dia foi leve, passou rápido. Comemos bem e jogámos jogos de tabuleiro, numa infância que se revela com o excitamento de algo novo, com a partilha de algo sem destino, com o viver o momento como se o amanhã não existisse. A L. e C. dedilham nos seus computadores, concentradas em não per...