Alentejo, Dezembro 2023
Estou de cachecol dentro de casa, e a beber chá enquanto dedilho. Faz escuro na hora do lanche, a casa acolhe qualquer hora. Chegamos numa quarta-feira sem pressas, a casa ainda cheira a limpa-móveis, comemos produtos daqui e deixamos o frio guiar o destino. Sento-me à mesa a fingir que trabalho, vejo o Senhor J. lá ao fundo a trabalhar na noite fria, deixo-me levar pelo destino que criámos. Durmo profundamente, sonho com coisas más, acordo ao lado do calor e num estremunho levanto-me para o café despertador. Levo o sono pela manhã, numa raridade anual, durmo acordada e o destino acorda-me de novo: vou lá fora, colho laranjas, apanho romãs, levo ovos das galinhas, reviro o composto, faço sopa, cozo marmelos, tosto avelãs. Mexo o corpo, acordo finalmente, não me deixo levar pela preguiça e a memória muscular vence a batalha. Dançamos de hora a hora, o T. tira-me a seriedade, eu dou-lhe a estabilidade, a casa oferece-nos espaço. Passamos a tarde como turistas numa Estremoz solitária pela...